quinta-feira, 5 de março de 2015

ARTILHEIRO, PAI, PESCADOR E AUTÔNOMO, JULIANO BUSCA REPETIR 2014


“Matar um leão por dia”. Este é o lema de Juliano André Plasdo. Dividido entre o futebol, a família, a pescaria e o trabalho autônomo, o camisa 8 e artilheiro do Nova Orleans na temporada passada, com 12 gols, leva uma vida simples, mas com muita alegria e prazer naquilo que faz.

Pai, pescador e pintor, Juliano tem muitas funções. Mas, dentro de campo, a sua função é honrar a camisa 8 do atual campeão da Suburbana, o Nova Orleans. No futebol profissional, seu ídolo é Ronaldinho Gaúcho. Mas seu maior ídolo na vida é o senhor Raimundo Alves Plasmo, seu avô, o homem que apresentou o esporte ao menino. O volante guarda na memória cada momento em que passou ao lado do já falecido Raimundo. “Ele está acima de tudo, da minha família, do meu futebol. Ele faleceu faz 4 anos, mas, se eu estivesse jogando em qualquer pelada, qualquer campo, ele estava lá. Foi ele quem me criou, como um pai. Ele me ensinou a ser o homem que eu sou. Me ensinou a gostar de futebol”, disse emocionado.

O avô foi a pessoa que mais o incentivou a seguir a carreira de jogador de futebol, mas, por motivos financeiros e familiares, a vida de jogador profissional, que quase deu certo, teve que ser abandonada. “Antes de eu jogar a Suburbana, eu fui jogador profissional também. Mas eu larguei toda a carreira por causa da família. Fui jogar no Toledo em 2003 e, já no primeiro jogo, eu fiz gol. Mas lá a gente passava dificuldade, porque o clube não tinha dinheiro. O clube estava passando por diversas dificuldades. Ele tinha uns 47 jogadores. De Curitiba, eram três ou quatro. O resto era tudo da Bahia e outros lugares. Mas não tinha como pagar os jogadores. E eu tinha uma menina pequena, mesmo assim ainda agüentei uns quatro meses lá. Fiz nove jogos, me destaquei, mas não agüentei ficar. Minha mulher e meus filhos estavam precisando de mim, eu deixei de jogar no profissional para manter minha família”, contou.


Juliano e a lembrança de seu avô que ele ganhou do Orleans após o título do ano passado

Família

Natural de Pinhais e hoje com 35 anos, Juliano é pai de dois filhos: Gabrielle e Alysson. Ao lado de sua esposa Joyce, o atleta contou um pouco de sua vida extracampo, que teve dificuldades e desentendimentos por conta do futebol. “Agora que a Joice começou a ir aos campos comigo. Antes, ela não ia, dizia que não chamava, não convidava. E, para ela, a Suburbana era um jogo normal. Eu sempre falava para ela, a Suburbana é um campeonato bem disputado, um campeonato sério e tem várias jogadores que são ex-profissionais. Você sai da sua casa para treinar e volta meia-noite. Mas elas não entendem, pensam que você está saindo de dentro de casa para passear”, explicou.

Juliano conta que em 2014 foi primeiro ano em que sua esposa o acompanhou em todos os jogos, e ela foi “pé quente”, pois o Nova Orleans sagrou-se campeão de  Suburbana. “Faz 10 anos que eu jogo a Suburbana, e este é o primeiro ano que ela me acompanhou em quase todos os jogos. Apenas em um jogo ela não veio. Foi pé quente. Graças a Deus, eu ganhei e ainda fui um dos destaques deste ano”, comemorou.

Depois de alguns anos, Joyce começou a assimilar e se acostumar com a vida do seu esposo-atleta. Ela conta que ele a deixava um pouco de lado por conta dos compromissos com o futebol. “Ele me deixava um pouco de lado e ia para jogo. Agora, já lido melhor com isso. Já consigo entender. Vou aos jogos também, quando eu posso. Nos jogos da Suburbana, eu fui a quase todos. Só não vim contra o Trieste”, afirmou a esposa. Ela lembra-se até dos jogos e os gols que o marido fez na temporada passada. “Teve dois jogos marcantes, foram os contra o Pilarzinho. Os dois últimos. O 3 a 0 e o da Vila Capanema. Os gols mais especiais foram os do 3 a 0, na segunda partida da final, lá no campo deles”, disse.

Mas, para Juliano, o gol mais marcante foi contra o Santa Quitéria, na primeira partida da semifinal, no qual o time venceu por 2 a 1. Segundo ele, o tabu de nunca ter marcado contra o goleiro Jonas foi o que o motivou a semana toda. “Teve um jogo que eu falei para ela (Joyce): ‘Hoje eu vou fazer gol’. Eu fiquei falando a semana inteira que iria fazer gol. Porque eu tinha um tabu com o Jonas, goleiro do Quitéria. Ele nem sabe disso, mas eu joguei umas seis, sete vezes contra ele e nunca tinha feito gol. Aí eu falei para mim mesmo: ‘De hoje não passa’”, comentou. “E ele fez o gol lá no Quitéria, pegou a bola, foi na torcida deles e beijou. Achei que a gente ia apanhar deles”, sorriu Joyce.

A família é o que faz Juliano seguir em frente. Conciliando o tempo de trabalho e do futebol, ele ainda se dedica também à função de pai. “Tenho um piazinho, que agora está numa fase boa para curtir. Ele fez cinco anos agora. Ele é tudo. Tudo que a gente faz é por ele. Tenho uma menina também, mas ela já moça, já tem 15 anos. Já ajuda a cuidar da casa, do irmãozinho. Então, já fica mais fácil”, falou.

Ele quer que o filho Alysson se torne jogador e, se puder, fará de tudo para ajudá-lo. “Meu sonho é que ele se torne jogador. Mas a gente só vai saber disso quando ele estiver um pouco mais velho. Agora, ele pega a bola, sai correndo, chutando tudo, até o chão. Eu vou lutar com tudo para fazê-lo chegar onde eu não cheguei”, disse.

Profissão e hobby

Além de pai e jogador de futebol, Juliano trabalha como autônomo. Ele segue a profissão que aprendeu e herdou do pai, que só teve contato na adolescência. “Eu trabalho por conta. Eu mexo com revestimento, que é pintura, grafiato, projetada. Tudo que for que da parte de acabamento de construção civil, eu faço. Vai fazer uns 20 anos que eu trabalho nessa área. 

Meu pai e minha mãe se separaram e depois de 14 anos que eu tive contato com ele. E nesses 14 anos que eu não tive contato com ele, foi meu avô quem me criou. Depois que eu tive contato com ele, que ele me a profissão. E que eu carrego até hoje”, lembrou.

O avô Raimundo, além da influência no futebol, também o ensinou a gostar de pescar. Nos meses de folga do campeonato, o artilheiro passa dias se divertindo com a pescaria. “Eu tenho um hobby. Desde novembro até março, duas vezes na semana, eu vou para a pescaria. Nos dias que eu estou de folga, que eu estou sem fazer nada, eu vou ao Capivari. É onde eu gosto de refletir, pensar, descanso minha mente lá”, contou.


Nova Orleans campeão da Suburbana 2014

Juliano foi um dos grandes responsáveis pela conquista da Suburbana 2014 do Nova Orleans - faziam 20 anos que o clube não levantava uma taça. Autor de 12 gols na temporada, o volante contou um pouco de sua história, como eram os treinamentos da equipe e como foi a reviravolta do time após perder a primeira partida dentro de casa na decisão.


Juliano completou 10 anos como jogador da Suburbana, mas foi no União Nova Orleans que ele ergueu sua primeira taça. “Já passei por alguns clubes aqui da capital. Joguei no Santa Quitéria, Combate Barreirinha, Bairro Alto, no União Ahú e, agora, no Orleans. Fui campeão só aqui. Em 2009, eu joguei oito ou nove partidas no Bairro Alto, mas machuquei o púbis, daí fui cortado do campeonato, porque a recuperação dessa lesão demora de três a seis meses. Mas eu tava bem. No time só tinha os jogadores tops de Curitiba, mas eu sempre estava entre os relacionados”, disse.

O camisa 8 elogiou muito o time que o acolheu no ano passado. Segundo ele, treinamentos e a forma de trabalho do clube fizeram o time chegar aonde chegou na temporada passada. “Nossos treinamentos eram todas as terças e quintas. Pelo primeiro ano de Orleans, que eu não conhecia, é um baita que clube, que leva o trabalho muito a sério. Dos clubes que eu passei, não que os outros não levam o trabalho a sério, mas o Nova Orleans é um clube que precisa ser respeitado. O trabalho deles é certinho. Eles não são um clube de muito dinheiro, mas o que eles prometem eles levam até o final. É um clube que tem que ser valorizado”, afirmou.

O Nova Orleans nunca foi um dos favoritos para ser o campeão da Suburbana de 2014. Na primeira fase perdeu alguns jogos, os adversários tinham mais potencial para conquistar a taça, mas a persistência e união do grupo fizeram os jogadores mudarem o destino do time. “Quando a gente perdeu um, duas, três partidas, que a gente viu que tava difícil. O jogo mais importante para a gente foi contra o Renovicente. Era um jogo de vida ou morte para gente. Então naquele jogo que nós ganhamos de 4 a 0 deles, foi o jogo que a gente falou assim: ‘ou o Orleans vai, ou para por aqui’. Então eu acredito que a vitória principal do Nova Orleans foi contra o Renovicente. Teve um virada ali, o time viu o que queria, encaixou, começou a fazer os trabalhos pensando diferente, por que antes estava todo mundo cabisbaixo. Ninguém sabe, mas a gente teve uma luz também. Nós estávamos bem, jogávamos bem, mas não conseguíamos ganhar. Aí o presidente trouxe um diácono e ele fez uma corrente. A equipe estava para baixo e quando fizemos essa corrente parece que abriu Nosso caminho.”, relembrou.

Depois de uma caminhada longa, o Nova Orleans chegou às finais. Na primeira decisão, dentro do estádio José Drulla Sobrinho, o time saiu derrotado pelo Pilarzinho, por 1 a 0. Mas ninguém desistiu. “Treinamos terça e quinta debaixo de chuva. Os jogadores gripados, morrendo e dalhe água, treinamos muito. Eles fazendo pagode no vestiário e nós ali treinando. Treinador, massagista, jogador, todo mundo ali, treinando, sem faltar ninguém. Tanto que o resultado veio”, falou. Na partida de volta, a equipe venceu por 3 a 0 e forçou uma terceira partida. A finalíssima ocorreu na Vila Capanema. No tempo regular, empate em 1 a 1. Nos pênaltis, o Nova Orleans sagrou-se campeão.

Juliano não meça palavras para falar do treinador Oliveira, que para ele foi o grande responsável pela mudança na equipe e pela conquista do título do ano passado. “O Oliveira é uma grande pessoa. Foi o primeiro ano que trabalhei com ele. Ele é uma grande pessoa, ele te dá uma liberdade para fazer o teu trabalho, não tem aquela cobrança. E para mim ele foi um dos grandes responsáveis por levar o Orleans a chegar aonde chegou”, finalizou.

Para o presidente do Nova Orleans, Mário Lipinski, todo time lutou muito para conquistar o título e Juliano Alves Plasdo tem uma grande parcela na conquista. “Foi decisivo. Um pedaço do troféu é dele”, finalizou. 

Por: @luanakaseker